segunda-feira, 2 de maio de 2011

SOTERIOLOGIA: Um breve olhar sobre a Salvação

PARTE 3  


Já falamos em artigo anterior sobre a impossibilidade humana de obter salvação. Contudo hoje para finalizar essa série, vamos discorrer sobre algumas "teorias" religiosas ditas cristãs e veremos a respeito de suas doutrinas acerca da salvação, doutrinas essas pretensamente baseadas na Bíblia, mas que na prática tornam o sacrifício de Cristo incompleto, quando não desnecessário. O objetivo aqui é apenas dar uma visão geral sobre o assunto, pois o tema é vasto e esgotá-lo exigiria um tempo e um espaço que escapam da nossa intenção inicial ao pensarmos essa série. 


Comecemos analisando rapidamente o Mormonismo. Logo no seu credo básico, os 13 pontos, escrito pelo fundador da igreja, Joseph Smith, encontramos uma breve definição da Salvação Mórmon: Fé no Senhor Jesus Cristo, Arrependimento, Batismo para remissão de pecados e imposição de mãos para o Espírito Santo. A primeira vista parece extremamente fiel a nossa visão Bíblica, mas se tivessemos tempo de analisar com a devida atenção, veríamos que o Deus e o Cristo do Mormonismo não são os mesmos que a Bíblia revela e tampouco a obra expiatória de Cristo tem o mesmo significado. Basta citar um dos pontos do credo Mórmon como exemplo: "Cremos na coligação literal de Israel e na restauração das Dez Tribos; que Sião (a Nova Jerusalém) será construída no continente americano; que Cristo reinará pessoalmente na Terra; e que a Terra será renovada e receberá sua glória paradisíaca." Qual a base bíblica para  acreditarmos nisso? Em tempos de indecisão quanto ao território de Israel até fazia sentido, mas hoje os judeus estão firmemente postados na sua Palestina e não vejo razão para de lá saírem.  

Pois bem, a respeito da Doutrina da Salvação os Mórmons também são pródigos em inventar disparates, como exemplo cito o Batismo pelos Mortos. Supostamente embasados na Bíblia (Hebreus 6-1,2) os mórmons afirmam que "os que estão vivos fazem trabalho vicário para os seus mortos, e, assim tornam-se 'salvadores do Monte Sião' ".  (Extraído d'O plano da salvação, P. 32). Vejamos o que diz a referência citada: Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, E da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. Hebreus 6:1-2
Em que momento se prega batismo pelos mortos? Certamente é um caso de má interpretação do texto. Convém citar também outro versículo neo-testamentário que erroneamente os mórmons citam para justificar esse ato: De outra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que então se batizam por eles? 1 Coríntios 15:29
Analisando o contexto dessa passagem vemos que Paulo está doutrinando sobre a ressurreição dos mortos e usa nesse caso essa referência a esse tipo de batismo, praticado pelos pagãos da época, como uma refutação aos que praticavam tal batismo, mas não criam na ressurreição. Em momento algum portanto, Paulo "legaliza" o batismo pelos mortos. 

Ainda no quesito "exaltação", que é como eles se referem à salvação, os mórmons incorrem em outros graves erros, afirmam, por exemplo, que condenar uma pessoa com boas intenções viola a lei da misericórdia de Deus. Ora sendo assim, basta eu me predispor a ser bom que todo o mal que porventura eu venha a fazer será esquecido? Não seria isso portanto o mesmo que ser salvo pelas obras? Ou pior, pois nem precisariam boas obras, bastaria ter vontade, ter a intenção de praticar uma boa ação. Afirmam eles portanto, que não basta a graça apenas, é necessário nosso "esforço", em forma de intenção. Nesse ponto os Mórmons "superam" inclusive seus irmãos Católicos, personagens de nossos próximos parágrafos (digo irmãos, pois os Mórmons não se consideram protestantes, tendo inclusive trabalhado em conjunto com a ICAR em trabalhos humanitários e sociais).
  
Segundo os Mórmons, após a ressurreição Jesus teria visitado um antigo povo que vivia no continente americano, povo esse que a História e a Arqueologia desconhecem totalmente

Para o Catolicismo a salvação pode ser merecida, recebida ou atingida pelas obras de alguém. O Conselho de Trento diz, no Cânone XVIII: "Se alguém diz que os mandamentos de Deus são impossíveis de serem cumpridos, mesmo por alguém justificado e constituído na graça: seja um anátema". 

Assim a igreja Católica instituiu os chamados sete sacramentos que devem ser seguidos para se obter a salvação. São eles: o batismo, a confirmação, a Santa Eucaristia, a Penitência, a Extrema Unção, as Ordenações Sagradas e o Matrimônio.
Além destes sacramentos ainda é necessária a realização de boas obras: como a freqüência a igreja, as missas, os rosários, jejuns, o uso de medalhas e crucifixos, as esmolas... E para completar o descabido absurdo o catecismo católico ensina que essas boas ações podem ser acumuladas e transmitidas aos outros conforme auferimos do Catecismo de Baltimore"A satisfação superabundante da Abençoada Virgem Maria e dos santos é aquela que ganharam durante seu tempo de vida mas não necessitavam, quais a igreja atribui aos seus membros companheiros da comunhão dos santos".

Um último descalabro a respeito da salvação no catolicismo encontra-se na Doutrina do purgatório. Segundo o catolicismo o purgatório é um lugar intermediário para onde são enviadas as almas dos nem tão maus, a ponto de irem ao inferno, mas nem tão bons, para merecerem o Paraíso. Lá essas almas seriam purificadas pelo fogo, recebendo a ajuda das orações pelos mortos, das missas e das esmolas, daqueles que aqui ficaram. Desnecessário dizer que o único "embasamento bíblico" dessa doutrina vem dos livros apócrifos, o que por si só já invalida a tese. 


Assim podemos concluir que a Igreja Católica é construída sobre um sistema de salvação pelas obras, sobre o mérito humano, e não sobre méritos apenas da perfeita e substitutiva morte de Jesus Cristo pelos pecadores. Portanto, o Catolicismo destrói o caráter puramente gracioso da salvação e substitui por um sistema de graça mais obras.

Enfim, aí estão dois exemplos de igrejas teoricamente cristãs, mas que na prática relegam o sacrifício vicário de Cristo à um segundo plano em seus esquemas de salvação. Poderíamos citar ainda as famigeradas Testemunhas de Jeová, que entre outros absurdos afirmam que a existência de um inferno para os iníquos é contrária à bondade divina e que apenas um número exato de pessoas serão salvas e farão parte da igreja celestial: os 144.000 mil selados do Apocalipse, que na sua versão são todos eles fiéis seguidores da Sociedade Torre de Vigia


Poderíamos abrir também um tópico específico sobre a visão legalista do Adventismo, que entre outras coisas afirma que a obediência aos mandamentos mosaicos, ali incluso a guarda do sábado, são requisitos fundamentais para se alcançar a salvação e que após o julgamento final o grupo dos pecadores (aumentado significativamente por cristãos que guardam o domingo) serão destruídos por Deus, inexistindo portanto um castigo eterno, mas tão somente uma "morte definitiva". 


E ainda poderíamos nos deter nas ordenanças impostas a seus membros pela Congregação Cristã, práticas essas que convencionamos chamar de  usos & costumes, mas que nessa denominação tomam forma de condição sine qua nom para se obter salvação. Mas entrando nesse assunto a "conversa" iria longe, pois afinal de contas doutrinar com base em costumes é prática usual de muitas outras denominações cristãs, inclusive muitas pentecostais, e como o objetivo aqui é mais geral do que específico deixo o tema para analise em outro artigo no futuro.


Então apenas para concluir a nossa argumentação creio ser possível perceber que muitas denominações pretensamente cristãs ao depositarem sua confiança em suas próprias forças diminuem a obra de Cristo e com isso fatalmente entristecem o Espírito Santo, cumprindo assim literalmente o exposto em Romanos 10.3: "Porquanto, não conhecendo a justiça de divina, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus".  



Que Deus nos dê graça e entendimento para que possamos levar a VERDADE para os que dela necessitam sempre lembrando o conselho do apóstolo Paulo: Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuide para que não caia! 1 Coríntios 10:12






PARTE 1


PARTE 2

SOTERIOLOGIA: Um breve olhar sobre a Salvação

PARTE 2

Chegamos ao segundo artigo da série sobre Soteriologia
Nesse mini-estudo pretendo abordar 03 aspectos importantes sobre a salvação. 
No primeiro artigo falei sobre a realidade da depravação total e da incapacidade humana de sanar sua necessidade de salvaçãoPara quem não leu ainda a primeira parte está acessível em http://paginasdavida.blogspot.com/2011/05/um-olhar-sobre-soteriologia.html

Neste segundo artigo da série falarei sobre o único meio para se alcançar a salvação. E no último artigo mostraremos algumas visões contraditórias a respeito da salvação, de igrejas que se dizem cristãs.



EM BREVE!




SOTERIOLOGIA: Um breve olhar sobre a Salvação

PARTE 1


Hoje gostaria de iniciar um breve estudo sobre a Soteriologia. Para quem não está habituado a linguagem teológica, explico que essa palavra deriva do grego: soteria: salvação e logia: estudo, significando portanto o Estudo da Salvação. Essa disciplina está entre as mais importantes doutrinas do Cristianismo, segundo alguns estudiosos é de fato a doutrina central da Bíblia Sagrada.

Nesse mini-estudo pretendo abordar 03 aspectos importantes sobre a salvação. Nesse primeiro artigo falarei sobre a realidade da depravação total e da incapacidade humana de sanar sua necessidade de salvaçãoNo segundo artigo da série falarei sobre o único meio para se alcançar a salvação. E no último artigo mostraremos algumas visões contraditórias e até mesmo heréticas, de igrejas que se dizem cristãs.

Retirado daqui http://fotos.sapo.pt/Ff5m11NnweOqiyDJZqdZ/


TODOS PECARAM; TODOS PRECISAM DE UM SALVADOR

Segundo Rm. 3.23 “[...] todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Para muitos essa declaração não faz sentido, perguntam como posso eu ser culpado por algo que foi cometido por outros muito antes de mim? E um ponto que serve para tumultuar a questão é a visão popular de que uma criança é pura, sem pecado, levando a crer que nascemos sem a carga desse pecado original que a epístola de Paulo aos Romanos revela. Como então podemos dizer que todos os seres viventes são pecadores?

Primeiramente vamos lembrar-nos da ocasião da queda original do ser humano. Adão e Eva tendo cometido o pecado da desobediência contra Deus foram expulsos do Paraíso e como castigo adicional perderam acesso a imortalidade. Logo, a morte passou a ser o símbolo maior do pecado. Conforme o mesmo Paulo escreve em outro versículo da epístola de Romanos, 6.23: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor.” Ora, se a morte é colocada aqui como a consequência natural do pecado, podemos entender que se não somos pecadores não morremos. Então conclui-se que todos nós carregamos em nossa natureza esse Pecado original.

Ao estudar esse ponto, contudo, muitas vezes faz-se uma confusão. Alguns estudiosos (entre eles Agostinho e Calvino) concluíram que o pecado de Adão era transmitido hereditariamente a todos os homens. Entretanto esse ensino contradiz o ensino de outras partes da Escritura, limitando a justiça de Deus e lançando todas as crianças que morrem a uma condenação eterna, por um pecado que elas não cometeram. Devido a isso algumas denominações cristãs batizam os filhos recém nascidos com a finalidade de absolvê-los dessa suposta culpa de Adão.

O verdadeiro ensino que podemos retirar da Escritura é que Adão introduziu o pecado no mundo e transmitiu a natureza pecaminosa ao gênero humano, de modo que quando chega-se a idade de fazer a sua escolha o ser humano inevitavelmente opta pelo pecado que conduz para a morte.

Essa morte, aí falada, contudo, não se refere apenas ao aspecto físico. Na verdade ela expressa a morte espiritual do homem, que equivale a sua separação, ou perda da comunhão com Deus. Mais uma vez saliento, a morte atinge o homem quando ele escolhe, por si mesmo, seguir o exemplo de Adão. Esse ensino encontra eco nas palavras de 1 Coríntios 15.22 onde Paulo em outras palavras diz que: assim como Adão trouxe a possibilidade de morte para todos, Cristo traz a possibilidade de vida, e vida eterna! Outro versículo que apóia essa visão é Romanos 5.12.

Se você ainda não se convenceu disso reflita: por que existe a tendência natural do ser humano para fazer o mal? É o tal pecado original escondido em nossa natureza. A criança de fato é pura, mas só até poder fazer suas próprias escolhas. Quando chegar esse dia invariavelmente vai pecar. Aí vai se embora a pureza e o pecado fatalmente vai crescer. Como escreveu João em sua primeira epístola, cap. 1, vers. 8 “Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós”.

Mas o que podemos fazer para eliminar o pecado? Ou em outras palavras como adquirir a salvação? Será que humanamente é possível obter a salvação de nossas almas?

No último artigo dessa série vamos analisar como algumas denominações religiosas que se consideram cristãs explicam a Salvação. Mas hoje para fins de ilustração proponho que olhemos para a Lei do Judaísmo expressa no Antigo Testamento.

Nos livros escritos por Moisés encontramos 613 preceitos que se fossem seguidos a risca implicariam em Salvação. Contudo ninguém (exceto Cristo) conseguiu guardar todas essas exigências da Lei. Então Deus prevendo a impossibilidade de cumprir essas leis, revelou ao seu povo, rituais que deveriam ser feitos para “pagar” os deslizes cometidos e perdoar os pecados do povo a fim de reconciliá-los. Se o leitor ler esses livros atentamente verá que há uma ênfase nesses rituais de sacrifício. Também vai perceber que os judeus apesar de terem um rol enorme de sacrifícios específicos a serem feitos sempre que alguém cometia alguma irregularidade, uma vez ao ano faziam um ritual especial para expiar os pecados de todo o povo, pecados que porventura houvessem sido deixados para trás, esquecidos durante o ano.

O livro de Levítico no seu capítulo 16 mostra em detalhes a seriedade com que esse dia da expiação era tratado. Para começar o dia, o sumo sacerdote, vestia as suas vestes sagradas, tomava um banho cerimonial com água e logo a seguir, antes do ato da expiação pelos pecados do povo, ele precisava oferecer um sacrifício pelos seus próprios pecados. Depois, ele tomava dois cordeiros: um para o sacrifício, e o outro para a expiação. Ele então sacrificava o primeiro cordeiro, e entrando no Lugar Santíssimo aspergia o seu sangue sobre o propiciatório, que cobria a arca contendo a lei divina, dessa forma representava que aquele sangue simbolizava os pecados que toda a nação havia cometido contra a lei. Assim se fazia expiação pelos pecados da nação inteira. Finalizando o ritual, o sacerdote tomava o cordeiro vivo, colocava as mãos sobre a sua cabeça, confessando sobre ele todos os pecados dos israelitas e depois o enviava ao deserto, simbolizando que os pecados deles eram levados para fora do acampamento.

Convém destacar o seguinte, esse sacrifício de expiação não tinha o caráter de apagar os pecados, mas simplesmente cobri-los. Isso é indicado na palavra utilizada: expiação; vem da palavra hebraica kippurim, que deriva de kaphar, cujo significado é cobrir. Nesse sentido os sacrifícios do Antigo Testamento apenas cobriam os pecados, dando a entender que haveria necessidade de um ritual superior para de fato eliminar o pecado. O cumprimento desse ritual superior foi a morte de Jesus no Calvário. Este pensamento é avalizado pelo capítulo 10 do livro de Hebreus, onde o autor escreve que o sangue de bodes ou cordeiros não podia remover o pecado, sendo que por isso eram repetidos constantemente pelos sacerdotes, mas o autor enfatiza que não foi assim o sacrifício de Cristo, pois este morrendo uma vez eliminou o pecado plenamente (no segundo artigo da série Salvação veremos isso com mais detalhes.)

Analisando outras passagens da Bíblia Sagrada podemos concluir que se teoricamente é possível obter a Salvação seguindo a Lei do Judaísmo, na prática isso nunca ocorrerá. Mas então por que Deus daria uma Lei que ninguém poderia cumprir? A Bíblia dá a resposta.

Hebreus 9.23 “Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão no céu fossem purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes”.

Em outras palavras, os rituais do Antigo Testamento eram meros símbolos daquele que estava por vir (Cristo).

Sobre isso falaremos no segundo artigo dessa série.



PARTE 2


PARTE 3


domingo, 20 de fevereiro de 2011

BREVE HISTÓRICO DA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM GUARAMIRIM - SC

O texto a seguir foi baseado no artigo O SURGIMENTO DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS EM GUARAMIRIM, que foi apresentado como trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em história no ano de 2009. E pretende com base em relatos orais e pesquisas bibliográficas resgatar a história da Assembléia de Deus no município de Guaramirim – SC. Para isso traz detalhes sobre a fundação do município e a criação da denominação no Brasil. 


A Assembléia de Deus é uma igreja evangélica do ramo pentecostal. De acordo com Campos (2005), o pentecostalismo tem sua origem na Bíblia Sagrada, quando esta cita a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos de Cristo. A principal característica desse ramo do protestantismo é a glossolalia (se expressar em línguas que o indivíduo desconheça). Para Campos, o movimento pentecostal foi forte até meados do III século da era cristã, quando então a miscigenação com o paganismo fez com que a Igreja perdesse a muitos dos seus carismas (ou dons) do Espírito Santo.

Para Conde (1982), um dos movimentos dentro do Pentecostalismo de maior destaque foi o “Movimento da Azusa Street”, que teve início em abril de 1906 na rua Azusa em Los Angeles, Califórnia. O seu grande líder era o pastor William Seymor. Foi numa reunião no templo da rua Azuza que dois missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren se conheceram e planejaram uma viagem missionária para o Brasil. Esses missionários estrangeiros acabaram sendo os fundadores da Assembléia de Deus no Brasil. Após grande repercussão nos Estados Unidos, o movimento pentecostal tomava a direção da América do Sul, onde acabaria causando impacto ainda maior do que nos EUA. Foi em 1911 que os dois missionários suecos aportaram em Belém do Pará.

Segundo Santos (1996, p. 15), “por um breve período [os missionários] congregaram com a comunidade batista de Belém, até que suas idéias pentecostais entraram em choque com a doutrina tradicional da igreja hospedeira” e assim em junho de 1911 acabaram rompendo com os batistas e fundando a Missão da Fé Apostólica, que mais tarde (1918) teria seu nome mudado para Assembléia de Deus.

Sobre a fundação de Guaramirim, começamos por dizer que originalmente está ligada ao desenvolvimento de diversas comunidades religiosas. A saber, Luteranos ao leste, católicos ao norte e batistas mais ao sul. Dentro desse sul geográfico situa-se a história da Assembléia de Deus.

Guaramirim teria surgido em 1886, quando imigrantes alemães recém chegados da Europa se fixaram na localidade que hoje é conhecida por Brüderthal no dia 06 de julho. Os imigrantes pertenciam a uma antiga dissidência católica que após muitas perseguições, no ano de 1727 unificou seu movimento na cidade germânica de Herrenhut, no que viria a ser a sede desta denominação religiosa, mais conhecida como Comunidade Moravia (ou ainda, Irmãos Morávios) (HARDT, 2009). Na época, Brüderthal (que numa tradução literal significa “vale dos irmãos”) foi na região norte do estado, o principal pólo dos que professavam a fé luterana.

Ainda no final do século XIX, imigrantes russos e letos, fugindo do comunismo que iniciava seu domínio sob a parte oriental da Europa, imigraram para Santa Catarina. Eram cerca de 600 famílias, que se espalharam por três pólos principais. A maior parte se fixou na região onde hoje é o município de Urubici. Os demais se dividiram entre Blumenau e Guaramirim. Segundo Silva (2009), esses imigrantes russos e letos eram em sua maioria protestantes. Sendo que algumas famílias eram Presbiterianas, mas a maioria era formada por Batistas. Dentre esses, destacamos a figura de Pedro Graudin, que foi o primeiro pastor da igreja fundada pelos imigrantes após a sua chegada.

No início os batistas e os luteranos coexistiram fraternalmente. Segundo Silva (2009), não havia diferenças significativas entre as doutrinas e costumes pregados por ambas as igrejas. Mas esse panorama de aparente igualdade iria mudar a partir de 1909, graças ao esforço do pastor Graudin no intuito de levar uma nova mensagem pentecostal. 

Dois anos antes da chegada dos missionários suecos que fundariam a Assembléia de Deus no Brasil (1909), o pastor Pedro Graudin na localidade de Jacu-açú teve uma experiência pentecostal, tendo inclusive falado em um idioma que o mesmo não conhecia e não conseguia controlar. Pedro Graudin entendeu então que esse episódio era idêntico a passagem bíblica do Novo Testamento que trata sobre a vinda do Espírito Santo (Atos dos apóstolos 2: 1-12).

Segundo Silva (2009), após essa experiência Pedro Graudin promoveu mudanças na sua igreja. Extinguiu o uso de jóias (dentes de ouro eram a última moda), proibiu as mulheres de cortar o cabelo e o mais polêmico: tirou a cruz de dentro da igreja. Com isso acabou rompendo com os “amigos” luteranos, que até a atualidade ainda tem a cruz como um de seus símbolos denominacionais.

Além disso, Graudin passou a pregar sermões pentecostais gerando uma divisão no seio da igreja batista. Tendo sido hostilizado por seus próprios liderados dentro da igreja que pastoreava, Graudin foi posteriormente expulso (dois meses depois), ainda em 1909. Fato idêntico ao que ocorreria aos missionários suecos dois anos depois no Pará. A diferença é que no caso de Berg e Vingren, essa disputa os levou a fundarem a Missão da Fé Apostólica. Já para os Graudin esse ocorrido levou a família a deixar de freqüentar qualquer igreja até 1933, ano em que surgiu em Santa Catarina um jovem missionário chamado André Bernardino.

Conforme relatado, Berg e Vingren fundaram sua igreja no Pará. Contudo não se limitaram ao norte do Brasil, em pouco tempo já haviam alcançado boa parte do nosso território estabelecendo igrejas e angariando novos fiéis (CONDE, 1982). Em 1931, os missionários suecos estavam estabelecidos na cidade do Rio de Janeiro. Foi nessa cidade que o Itajaíense André Bernardino abraçou a causa pentecostal.

No livro Raízes da Nossa Fé (1996), o escritor Ismael dos Santos escreve que Bernardino era um jovem católico muito religioso que tencionava ser padre. Aos 17 anos, em 1930, deixou Itajaí e foi para o Rio de Janeiro estudar num seminário com os Irmãos Maristas. Contudo a vida noturna carioca o atraiu para longe do seminário poucos meses depois. Numa das suas “noitadas” acabou contraindo tuberculose. Quando os padres souberam dessa situação, acharam por bem expulsá-lo do seminário.

Assim em agosto de 1930, o jovem catarinense recebeu uma visita inesperada de Berg e Vingren, que haviam sido convidados por um amigo de Bernardino para vir orar por ele. Santos (1996) afirma que após a oração André foi curado instantaneamente. Depois disso passou sete meses em companhia dos “crentes” do Rio de Janeiro. Tempo esse que usou para aprofundar seu conhecimento bíblico.

De volta a Itajaí, o jovem André Bernardino da Silva estabelece a primeira igreja Assembléia de Deus em Santa Catarina e a partir dali se lança num esforço para conseguir novos adeptos para sua nova “religião”. Enfrentando sempre perseguição, principalmente de sacerdotes católicos, a igreja foi expandindo suas fronteiras para além da região de Itajaí. Em breve alcançaria Joinville, Blumenau, Florianópolis e Guaramirim (SANTOS, 1996).

Um dos fatores que explicam o rápido crescimento do movimento pentecostal nos anos 1930 era o forte apelo popular das reuniões. De acordo com Silva (2009), que é filho de André Bernardino, seu pai era um excelente músico e usava esse talento para cativar as massas. Numa época onde não havia televisão, rádio era artigo de luxo, shoppings centers não existiam, nem outra espécie de divertimento “pós-moderno”, a religião era o único programa “divertido” da comunidade e atraía a população com seus cantos e músicas. Silva (2009) também relatou que freqüentemente ao término das reuniões o missionário Bernardino distribuía balas para as crianças, cativando assim ainda mais a comunidade.

Em 1933, dois anos após a fundação da igreja em Itajaí, “em um culto familiar na cidade de Joinville, André Bernardino [...] afirmou que eram os únicos pentecostais da região. Um presbiteriano [...] protestou, afirmando: - O pregador está enganado! (SANTOS, 1996, p. 31)”. Esse presbiteriano se referia a presença da família Graudin na localidade de Guaramirim. Segundo Silva (2009), em 15 de março de 1933 Bernardino e mais algumas pessoas tomaram um trem para a localidade de Guaramirim, que na época era chamada de Bananal. Contudo, quando chegaram na estação foram confundidos com revolucionários integralistas e presos. Somente horas depois foram liberados e puderam prosseguir viagem.

Assim chegaram à casa dos Graudin já sendo noite. Mas segundo Santos (1996, p. 31) eram aguardados por Pedro Graudin, que tivera uma revelação divina sobre a vinda dos missionários.

Pedro Graudin morreu em 1935. Mas sua esposa Lina, deu prosseguimento ao ímpeto evangelístico do marido, tendo inclusive sustentado o missionário André Bernardino por vários anos, enquanto o mesmo se dedicava a fazer reuniões em locais distantes para pregar as “boas novas” do pentecostalismo e, sobretudo a abrir novas igrejas. Segundo Silva (2009) só em Guaramirim cinco novas igrejas foram implantadas e num período de pouco mais de dez anos, completamente lotadas.

É um número expressivo se levarmos em conta a população da cidade. A maior parte dos novos convertidos era composta de famílias pobres. Geralmente pequenos agricultores e pescadores. Segundo Silva (2009) se não houvesse uma ajuda externa era impossível sobreviver apenas sendo pastor ou missionário, pois sendo os fiéis muito pobres, os pastores não achavam correto enfatizar a cobrança dos dízimos.

O primeiro local de reunião dos assembleianos de Guaramirim foi a casa do próprio Pedro Graudin. Posteriormente novos locais de cultos foram sendo construídos. Um dos mais importantes foi o da localidade de Caixa d’água. Segundo Silva (2009), foi em Caixa d’água que muitos dos pastores importantes da história da denominação em Santa Catarina surgiram.  Nirton dos Santos, por exemplo, que foi pastor presidente da convenção estadual da denominação durante mais de uma década, começou seu ministério na igreja da localidade de Caixa d’Água.

Silva (2009) conta que em localidade de Ponta Comprida, os cultos eram realizados aos finais de semana numa serraria. Os assentos eram simples toras de árvores espalhadas sob a cobertura da serraria. Após as reuniões era necessário “desmontar” a igreja pra que os empregados pudessem voltar a trabalhar na dia seguinte.

Outro detalhe que Silva (2009) nos conta é sobre o horário dos cultos. Como não havia ainda luz elétrica nas igrejas, era preciso usar velhos lampiões de azeite. Para reduzir os riscos de algum incêndio os encontros eram realizados à tarde, a partir das 17 horas. Salvo nos domingos, quando acontecia a Escola Bíblica Dominical às 09 horas da manhã.

Ainda de acordo com relatos de Silva (2009), no início a Igreja em Guaramirim era subordinada a Igreja de Joinville, sendo o pastor de lá o responsável por realizar mensalmente a celebração da santa ceia. No fim dos anos 50, contudo, a igreja passou a estar vinculada à Igreja de Jaraguá do Sul, ficando o pastor jaraguaense com aquela responsabilidade. Foi apenas em 1998 que Guaramirim obteve a sua total emancipação, passando a ser uma Igreja Independente.

Nas pesquisas que fiz sobre o assunto notei que por todo o estado de Santa Catarina onde já existiam igrejas estabelecidas houve vários confrontos entre os membros dessas denominações diferentes. A título de exemplo, cito depoimento do pastor-missionário Oswaldo Lemos sobre a implantação da igreja evangélica Assembléia de Deus em São Joaquim.

Todos os dias, às seis horas da tarde, quando o sino da catedral anunciava a hora da Ave-Maria, um grupo de religiosos saía do templo católico carregando um andor; a procissão parava em frente a nossa casa de cultos e por diversas vezes atiraram pedras no modesto salão [...]. (SANTOS 1996, p. 88),

Segundo Silva (2009), quando da chegada dos batistas letos, a igreja desses imigrantes sofreu com certa hostilidade por parte da Igreja Católica, mas nos anos 1930 em Guaramirim, não existem relatos de perseguições contra a Assembléia de Deus. Segundo ele isso se deve ao fato de que André Bernardino e o sacerdote católico local, Pe. Mathias eram muito amigos, não havendo, portanto uma guerra religiosa no município como houve em outros lugares.

Então devido a pouca resistência por parte de outras denominações e a aceitação da comunidade, a Igreja cresceu muito ao longo dos anos. Segundo Silva (2009) na década de 1980, com a chegada de migrantes vindos do estado do Paraná, houve um incremento considerável no número de conversões, fazendo com que a Igreja acompanhasse o crescimento populacional do município. Atualmente a igreja conta com pouco mais de 1500 membros e outros tantos congregados (fiéis ainda não batizados), perfazendo um total maior que 3500 convertidos espalhados por doze templos edificados no município.

Ponto importante a se destacar é que na maioria das vezes o fator perseguição é o que explica o surgimento e a permanência de uma determinada igreja, já que a meu ver isso fazia com que os fiéis se agarrassem ainda mais à sua fé. Contudo vimos que aqui se deu ao contrário. Ao invés de perseguição por parte dos católicos, houve uma bonita amizade entre os líderes de ambas as igrejas. Isso é um dado interessantíssimo. Quem dera se em todos os lugares a história pudesse se repetir. Num mundo onde ainda hoje pessoas matam umas as outras em nome da religião, a história da Assembléia de Deus em Guaramirim traz um exemplo de que com diálogo e respeito é possível coexistir pacificamente mesmo assumindo pontos de vista diferentes.


REFERÊNCIAS

CAMPOS, Leonildo S. As origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre uma relação ainda pouco avaliada. REVISTA USP, São Paulo, n.67, p. 100-115, setembro/novembro 2005.

CONDE, Emilio. História das Assembléias de Deus no Brasil. 2ª edição, Rio de Janeiro: CPAD, 1982.

HARDT, Horst Dieter. Uma Retrospectiva da História. Disponível em <<http://www.mluther.org.br/Imigracao/joseph%20hille.htm>>. Acesso em 12 Abr. 2009.

SANTOS, Ismael dos. Raízes da Nossa Fé. Blumenau: Ed. Letra Viva, 1996.

SILVA, Daniel Graudin da. Entrevistas concedidas a Tiago Carpes do Nascimento. Guaramirim, Maio e Junho/2009.